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20 Anos de saudade
Hélder Antoño um homem e um forcado de corpo inteiro
27/07/1966 a 27/03/1988

Tarefa particularmente ingrata é a de louvar o cidadão que já não existe. E mais complicado se torna, quando essa personagem fazia parte do espectáculo que amamos e nos deixa para todo o sempre com apenas 21 anos de idade.

Hélder AntoñoVolta de agradecimento com Joaquim BastinhasA Pega

Glória e Tragédia

A paixão dos que escrevem sobre toiros, os que procuram na civilização das massas populares despertar sentimentos patrióticos, que com especial empenho se servem dos meios educativos que dispõem para instruir, fazerem querer da utilidade dos valores físicos, morais e estéticos dos jovens vocacionados para uma modalidade genuinamente lusitana, todos os argumentos esbarram e se perdem quando uma vida se apaga.
Contudo, dentro do milenário espectáculo tauromáquico, sempre se ouviu falar em glória e tragédia, sem nunca se ter permitido recorrer ao sacrifício de homem dentro da liberdade da sua esfera de acção, reforçada, obviamente, com a própria protecção da lei.
Todos sabemos, que os acidentes de percurso são uma constante do nosso quotidiano. Nesta área outros se preocupam muito mais. Os que procedem no âmbito de sentimentos sanguinários, e que amassados por paixões incontroladas, levam os povos à morte, á miséria e maior pobreza.
Estas palavras de introdução, pretendem tão somente explicar o inexplicável: Vivesse para morrer!
É a ordem inexorável da vida.
Mas, que ela se venha a desarreigar deste mundo, no domínio da dignidade, do gozo, paixão e entrega consciente numa acção individual.

Traços Biográficos

Nome completo: Hélder Rodrigues Silva Antoño
Data de nascimento: 27 de Julho de 1966
Signo: Leão
Filho de : José Joaquim Antoño e Filomena Silva Rodrigues Antoño
Forcado de cara 1º Toiro que pegou: Moita do Ribatejo Pegou em todo o território nacional – Ilha da Madeira – Espanha – França
Faleceu na Praça de Toiros de Alcochete a 27.03.1988 Á córnea do Toiro “Farrusco”- Nº 3 de 585 quilos.
Ganadaria: D. Maria Ana Passanha
Viveu 21 anos e 4 meses certos. Perdeu a vida num dia 27. Precisamente a 27 tinha nascido.
Meticuloso, Responsável, de signo Leão, foi um Gigante nas Arenas.

O citeRecuar na cara dos toirosBem embarbelado com as ajudas de João Pedro Bolota e Joaquim Marecos

Inteligência e Bondade

Hélder Antoño foi um excelente estudante. Tinha o 2º ano de matemáticas e, embora na altura do nefasto acontecimento estivesse a cumprir o serviço militar em Leiria como sargento miliciano, e ainda que procurasse cumprir com as suas obrigações como empregado da Bolsa de Lisboa, pensava licenciar-se sem abdicar do fascínio das arenas.
O seu estilo de pessoa, a sua maneira de estar, os seus conceitos de vida aproximava-se muito com aquilo que os senhores consideram como uma faena templada, rítmica, cheia de pureza e sentimento.
Quando recebeu o primeiro ordenado, por sua expressa vontade, ele reverteu integralmente para pessoas pobres. É claro que não foram grandes quantias, mas a espontaneidade do gesto parece-nos revelador de um grande carácter.

Defronte do Toiro e da Vida
Um dia inesquecível em Ronda (Espanha)

Pegaram-se os dois últimos toiros da Corrida Goesca. O quinto da tarde, um toiro com mais de 600kg e 5 anos de idade, o Hélder chamou-o de largo, caminhou vagarosamente citando com aquele garbo e elegância que lhe era peculiar. Foi bonito de ver o encontro entre os dois monstros.

Como uma lapa, o Hélder, inflamou Afición Rodeña e a explosão propagou-se. Foi um delírio! O célebre António Ordeñoz, “diestro” histórico, abeirou-se do Hélder, envolveu-se num apertado abraço e exclamou: “ Henrobuena” maestro. Depois, durante, “as guapas”, os elogios e as atenções dos convidados concentravam-se todas no Hélder e no “Nini”.
Enquanto o primeiro não bebia álcool, os whisky ao segundo passavam sucessivamente. O “Nini” sempre ele, tinha à sua volta as mais belas. Uma camisa barata, de riscado ou semelhante, engomada ou não, luzia-lhe no corpo como uma de seda italiana no outro indivíduo qualquer. Era desenrascado e de uma placabilidade assombrosa, postura essa que levava-a para a arena.
O Heldér ria-se com a sua diatribes. Pensava bem as coisas e bastante responsável. Na vida não nos apercebemos de quanto gostamos das pessoas, mas na verdade a saudade é tão grande como inexplicável…

Ele era um homem diferente

Ainda era cabo João Mimo, quando no ano de 82 na Moita do Ribatejo foi dado a pegar o primeiro toiro a Hélder Antoño. Tinha 16 anos de idade. O moço convenceu tudo e todos. Ganhou-se um grande forcado, a ideia tomava raízes no grupo no decorrer da temporada de 83.
Quando se entra num espectáculo com 16 anos de idade, e esse adolescente é capaz de controlar as suas próprias reacções emocionais, ele constitui não só um elemento válido como um exemplo a seguir. Esse talvez tenha sido o maior segredo de Hélder Antoño. O génio na proeza individual de um rapaz, despido de egoísmo, que moralizou um grupo e uma modalidade. Aí reside o circuito do respeito em que todos nos empenhámos. Assentos no talento e valor, naquilo que não se vê mas sente!

Vestido de Povo, o Forcado é um nobre Português que joga a vida galhardamente de mãos nuas, para defender com raça os valores tradicionais da Pátria.